A Bruxa Não Vai Para a Fogueira Nesse Livro – Análise Completa
Ao longo dos anos, os livros direcionados ao público feminino veio ganhando cada vez mais força, até que as mulheres se tornassem o número maior de consumo literário.
Mas não é curioso que, mesmo sendo nós a consumir mais livros, poucos deles realmente tratassem de temas como o empoderamento feminino?
Seria injustiça dizer que não existiam livros feministas, mas é fato que muito poucos deles eram explícitos. A história está aí para provar que qualquer indício de autonomia feminina era cortado violentamente pela sociedade.
Felizmente estamos no século XXI, onde temos acesso a literatura que, além de ser direcionada ao público feminino, é explicitamente feminista.
E é justamente de uma obra assim que vamos falar hoje, pois o Café e Livros junto com o Meu Piauí preparou uma análise completa do livro “A bruxa não vai para a fogueira nesse livro”.
Este é o segundo livro da trilogia escrita por Amanda Lovelace, direcionada ao público feminino, com uma mensagem forte e inspiradora de empoderamento e união feminina, publicado em 2018 e vencedor do prêmio “Goodreads Choece Awards”.
Conteúdo:
ToggleSobre o Livro
Amanda Lovelace retorna para o Café e Livros com mais um de seus livros de poesias, que trazem uma experiência extremamente marcante para quem resolve lê-los.
Assim como o anterior, “A princesa salva a si mesma nesse livro”, esse aqui também é dividido em 4 partes em vez de capítulos, como os livros que geralmente somos acostumados a ler.
Este é o segundo livro de uma trilogia escrita por Amanda Lovelace, direcionada à mulheres, que enfatiza e incentiva o empoderamento feminino, com poemas que causam o sentimento de conexão e identificação na grande maioria das mulheres que os leem.
A trilogia conta com os livros: “A princesa salva a si mesma nesse livro”, o qual já fizemos a análise aqui; esse que estamos analisando hoje, e o terceiro intitulado “A voz da sereia volta nesse livro”. Os três fazem parte de um projeto chamado “Mulheres na poesia”.
Novamente, a autora escolheu montar a sua narrativa através de um livro de poesias escritas no gênero de romance de não ficção.
O livro anterior, contém uma mensagem feminista intrínseca e ao mesmo tempo evidente, se é que isso é possível.
Entretanto, ouso dizer que a mensagem contida nesse é ainda mais forte e direta.
Isso porque, aqui, a autora não produziu poemas que tratam apenas de relacionamentos abusivos e da libertação delas. Ela usou a metáfora das mulheres queimadas como bruxas para falar sobre as mulheres que são diariamente prejudicadas pelo patriarcado.
Outra semelhança com o livro anterior são os nomes das quatro partes, elas também são denominadas “a princesa”, “a donzela”, “a rainha” e “você”.
Cada uma dessas partes explora aspectos de diferentes momentos não só da vida de Amanda e sua jornada de superação, mas de todas as mulheres no geral.
Este é um livro escrito por uma mulher, sobre mulheres e para mulheres.
Logo na primeira página, encontramos um aviso sobre o conteúdo sensível desse livro, logo, não é para crianças.
Ele aborda temas como abusos contra crianças, estupro, abusos cometidos por um parceiro, distúrbios alimentares, morte, traumas, assassinato, violência e diversos preconceitos.
Sabendo disso e tendo mais de 18 anos, pode começar.
Romance de não ficção
Já explicamos na análise anterior o que é um romance de não ficção, mas, para resumir, um romance de não ficção é uma história real contada através de elementos que geralmente são usados em obras de ficção.
Ou seja, os fatos abordados realmente aconteceram, mas a maneira como é contada pode variar de acordo com a vontade do autor.
Ele pode adicionar ou ocultar pontos da história, pode aumentar alguns detalhes para tornar mais interessante ou até mesmo deixar algo propositalmente menos interessante.
O tipo de ficção usada também pode ser de livre escolha do autor, podendo ir de um drama policial a uma fantasia épica no meio de uma floresta encantada.
Assim como no livro anterior dessa série, Amanda traz uma mensagem feminista muito forte, onde ela trata de assuntos como abuso, empoderamento feminino e superação, e para isso ela escolheu usar a metáfora das mulheres queimadas como bruxas.
Ele inclusive rendeu para a autora, no ano de 2018, o prêmio literário chamado “Goodreads Choece Awards”, na categoria poesias e em 2019 entrou para alista de livros mais vendidos publishnews, alcançando a 4ª posição ao vender 1.555 cópias.
Resumo do livro sem spoiler
O livro utiliza o formato de poesias para transmitir a mensagem desejada através de textos curtos e rápidos.
Com uma forte mensagem feminista, a autora procura ressaltar a todo momento a força e a inteligência feminina.
Ela incentiva a luta contra a opressão social machista e patriarcal, nos mostrando que toda mulher pode e deve ser o que quiser e como quiser.
No livro, ela troca as fogueiras literais pelas fogueiras que foram tomando seu lugar ao longo dos tempos e conhecemos hoje com outros nomes, como a misoginia, o machismo, a insegurança e a violência.
A autora segue a sua narrativa destacando que a fogueira que queimava as bruxas se acende toda vez que temos que enfrentar esses aspectos no nosso cotidiano.
Ao ressignificas o termo ‘bruxa’, a autora ressalta ao longo do livro a força que essa palavra tem e o poder de algo forte que passa longe de um xingamento.
Ela resgata através dos poemas a imagem de força e resiliência que toda mulher tem dentro de si, fruto de uma ancestralidade naturalmente forte, independente, poderosa e impossível de ser destruída ou apagada.
A mensagem feminista que o livro anterior carregava de autoconhecimento e autoestima, agora está de volta direcionada para um caminho um pouco diferente e mais pesado, como a união feminina contra os diversos tipos de violência recorrentes.
O machismo, a violência, a insegurança e até a desunião que a própria sociedade criou entre as mulheres, são tema principal do livro, carregado de palavras fortes e até desconfortáveis.
Mas falar mais que isso já seria um spoiler.
Resenha
O livro já começa com um poema que nos pega desprevenidas e nos traz questionamentos profundos acerca da violência masculina e da sociedade machista patriarcal contra a mulher. E a pergunta principal a qual ele nos leva a fazer é: e se as mulheres resolvessem revidar.
Muitas vezes nos deparamos com notícias pavorosas sobre esse tema e nos perguntamos o porquê de a mulher em questão nunca ter revidado ou feito algo pata mudar aquilo, e a autora consegue acender esse questionamento muito bem em quem lê.
Logo de cara já percebemos que vem coisa forte pela frente. E é essa a palavra que, provavelmente, melhor descreve esse livro: forte. Isso porque ele bota o dedo na ferida e não nos poupa do desconforto ao ler.
A pegada desse livro é ainda mais forte e talvez um pouco mais pesada, pois a autora parece querer deixar as coisas mais “secas” dessa vez.
Por mais que seja um romance de não ficção e que os elementos escolhidos tenham sido os fantasiosos, a fantasia aqui é um pouco menos estilo conto de fadas e mais aventura e tragédia.
Em alguns momentos, se você é uma pessoa sensível ou tem traumas relacionados a esse tipo de assunto, é preciso respirar fundo e engolir seco, se quiser continuar a leitura. Isso porque a escrita de Lovelace é tão boa, que ela consegue transmitir os sentimentos.
Por tanto, meu conselho é que, se começar a se sentir desconfortável, faça uma pausa, vá fazer outra atividade e retorne para a leitura só depois.
No texto intitulado “fechamos aquelas portas e comemos aquelas chaves”, ela provoca a reflexão sobre o domínio do corpo da mulher, quando diz que somos consideradas posses antes de sermos consideradas seres humanos, e não só em relacionamentos.
A falta de liberdade feminina é bastante abordada por Lovelace aqui.
Um ponto importante a se destacar é a escolha da metáfora da bruxa queimada, como já fica óbvio pelo próprio título do livro.
Ela escolheu enaltecer a figura ancestral feminina através das histórias tão famosas ainda hoje em dia, de mulheres livres que eram consideradas bruxas e queimadas vivas.
Amanda constrói uma linha de pensamento sobre como as mulheres foram e são perseguidas até hoje, desde as mulheres queimadas na fogueira, muitas vezes por nada, até os dias atuais, com toda a violência a descrença, a subjugação e a falta do merecido respeito.
É muito boa e muito inteligente a forma como ela consegue fazer isso de um natural, que não é apelativa ou forçada. Ela trata de coisas reais, e talvez por isso seja tão difícil para algumas mulheres conseguirem ler esse livro sem se sentirem incomodadas.
Dá para perceber também como a narrativa, apesar de trazer elementos históricos, é ao mesmo tempo extremamente atual, nos levando a constatar que a sociedade ainda tem muito que evoluir em relação a isso.
Exemplo disso é o poema em que ela ressalta como grandes feitos de mulheres foram apagados dos livros de história.
No texto de nome “as mulheres são bibliotecas prestes a explodir”, ela diz que, apesar de isso ter sido ocultado dos livros de história, em quase toda grande invenção tem uma queimadura no formato da mão de uma mulher.
Com isso ela faz uma alusão a diversos feitos e descobertas que foram realizadas por mulheres, mas foram creditadas por homens, ou nem mesmo tiveram seus nomes citados como participação.
Antes de começar esse livro é preciso ter ciência de que a autora não faz rodeios para falar de assuntos delicados, ela vai direto ao ponto e sem meias palavras.
Em um texto onde ela faz uma crítica à falta de segurança que as mulheres têm até dentro de suas próprias casas com suas próprias famílias, ela dá o exemplo de mulheres que são estupradas por seus próprios familiares e não recebem amparo algum, e ainda são julgadas.
A linguagem que ela usa é direta, deixando as metáforas apenas para contextos. Sendo assim, ela usa termos explícitos para descrever o que deseja.
Mas não ache que o livro se resume a poemas pesados que nos deixam com um nó na garganta, pelo contrário, a mensagem é inspiradora.
Ao final da leitura, o pensamento que ficou foi de que a autora quis nos lembrar que o tempo da fogueira acabou, que devemos nos levantar, usar nossa voz, nossa força e ocupar o espaço que é nosso, em todos os sentidos.
Então, se eu tivesse que descrevê-lo, diria que ele é, além de forte, inspirador. Nós leitoras somos arrancadas da nossa zona de conforto, e ao final da leitura estamos cheias de coragem e inspiradas.
O próprio título já sugere isso ao dizer que a bruxa não vai para a fogueira nesse livro, ou seja, já basta!
Sobre a autora
Amanda Lovelace nasceu em 1991, nos Estados Unidos. Hoje, com 32 anos, ela faz parte do grande número, que vem crescendo cada vez mais, de mulheres que se destacam no mundo do mercado literário.
Ela busca trazer em seus livros, mensagens que encorajem e unam outras mulheres.
Declaradamente feminista, Amanda Lovelace chegou a dizer que acredita que se uma mulher não se considera feminista hoje, em pleno século XXI, é porque não entende o que esta luta realmente representa.
Sua obra mais famosa é a trilogia de livros de poesias, onde ela, em formato de romance de não ficção, faz uma autobiografia utilizando metáforas e elementos fantasiosos para narrar a sua trajetória.
São eles: “A princesa salva a si mesma nesse livro”, “A bruxa não vai para a fogueira nesse livro” e “A voz da sereia volta nesse livro”.
Então se estiver em dúvida, sim, a protagonista da trilogia é baseada nela mesma.
Mas se engana quem acha que o seu trabalho não já começou sendo lançado por editoras em livrarias. Amanda começou como poetiza de redes sociais, postando em seus perfis no Tumblr e Instagram.
E aí, o que achou? Já leu ou pretende ler “A bruxa não vai para a fogueira nesse livro”?
Vanessa Oliveira é uma baiana graduanda em letras com inglês pela UNEB. Tem paixão pelas áreas do audiovisual, música e literatura. Seu interesse em livros começou na adolescência com livros sobre fantasia e aventura, que abriram as portas para o vasto universo literário.